segunda-feira, 25 de abril de 2011

Miscelânea


Hoje vi. Hoje vi um objeto que ainda tem nome de gente.

E, e sempre e... E ela que sofre e nem sabe por que ou pelo que. Só aquela angústia que bate misturada com desânimo, com mínima vontade. Se soubesse sorrir, bem que já soube, bem que já sorriu e achou beleza em muito, em vários e até no pouco, no mínimo. Nem sabe descrever o que tem e isso é terrível, pior, é constante. Sensação da ilusão de infância... presa numa caixa de cimento no fundo do mar. Angústia apenas. E nem angústia, mais desânimo mesmo... e nada do que um dia foi precioso e instigante é mais. Deitada em sua cama, observa fria e sem qualquer ressentimento a vida que passa de ninguém importante, as rugas que preenchem seu rosto, as formas de seu corpo. Deitada em sua cama não raciocina, nem tenta, nem nada. Quem vê assim, até acha que ela é infeliz e nem é não. Só que há muitos, muitos ecos de vários e vários momentos que ainda ressoam em seus ouvidos, em frente aos seus olhos e estão presentes e todo momento em lugares vãos, comuns: estão lá involuntariamente. E o que ela espera deitada em sua cama, observando desinteressada a tevê que não se cala por um segundo sequer e se esforça descomunalmente por atenção. Enquanto ela olha, os fios de vincos em seu rosto aprofundam e sua vida existe em canto nenhum.

A menina de cabelo amarelo com sede na boca, levanta-se com as mão a tremer, corre, corre, corre. Com os pés descalços sente as irregularidades do chão abaixo dos seus pés, mas também sente o tapa de realidade do vento em seu rosto, aquele aviso que ela estava viva. Meu Deus estou viva e um mundo funciona por ai. Pisa forte. O cabelo, ao contrário dos seus pés, voam e expressam a liberdade que seus membros inferiores se esforçam tanto por conseguir e nem sequer desconfiam que jamais conseguiram tamanha proeza, mas ninguém nega que eles se esforçam apaixonadamente por conseguir e bem que mereciam por tamanho esforço e fé. E ela que corre apenas se deixa levar, e deixa atrás de si o rastro de seus passos e no vento que até a pouco passou pelo seu rosto aquilo quem não tem nome, mas que pesa, vive.

A cada dia que me descubro, me surpreendo com as novas peripércias de mim mesma. Esse estranho e saboroso gosto pela solidão, a aptidão por amar tudo á distância. E assim é. De dentro da gaveta o que há são objetos organizados com esmero. De uma felicidade desnecessária, incompleta. Amiga de todos, a que não confia em ninguém: assim é.
Por,
Hilda de Queiroz

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