sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mudanças


Gosto de sentir os anos passarem, gosto do gosto amargo/doce do tempo, de sentir o peso dos anos nas costas, na face, no corpo, na mente. Cada ano novo é um novo ciclo e como é necessário todos os rituais possíveis de passagem de um para o outro, sentir que um findou-se (com todas suas alegrias e tormentos) e outro já bate a porta com cheirinho de tinta fresca. Cada ciclo tento respirar a idade que tenho e trazer as mudanças que cabem a ele.Conheço um lugar(em especial) onde pessoas não mudam...Um lugar onde todos têm os mesmos gostos, hábitos...onde as filhas serão como as mães. Certo dia fui levada para lá: choque! Por exemplo, as jovens eram fenotipicamente iguais...longas madeixas lisas (nem sempre congênitas), franjinha de lado(meu Deus, quantas franjas!), esbeltas, roupas de mesma griff( rótulos ambulantes), unhas eternamente milimetricamente bem cuidadas...Achei graça! Ao conversar com algumas, percebi que todas também tinham a mesma visão de mundo e os mesmos projetos de vida!!!!!!!!(????) Ninguém queria tocar violão, viajar de mochila, fazer teatro de bonecos, aprender tango, sei lá, qualquer coisas que simplesmente lembrasse a palavra: IDENTIDADE. Gostavam das mesmas músicas(resumidas a uma única banda e ritmos semelhantes), queriam os mesmos cursos, os mesmos modelos de roupas( era proibido não estar "na moda", isso valia rejeiçaõ social)... Pessoas que não sentiam a mínima diferença dos anos... Fim de ano: tal canto. Férias/Carnaval: tal praia. Ao longo do ano: tais festas, as quais eram esperadas ansiosamente, com saliva a escorrer e que, imprecionantemente, eram com as mesmas bandas do ano anterior( e que tocaram no ano anterior ao ano anterior(...))!!! São como suas mães foram e serão como suas mães são:terão filhos, cuidaram de uma casa, submissas a um marido, casamentos arrastados pelos anos, sorriso de Monalisa para a sociedade. Em idade provecta: manteram os costumes, terão plena noção do fracasso de suas vidas, poliqueixosas aos ouvidos de todos, mas incentivaram suas filhas a seguirem os costumes, a serem como suas mães foram: extremamente fiéis a uma vida sem próposito algum, com gosto de sociedade.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Uma caixa de biscoito



Havia uma certa senhora que tinha um dos quarto mais aconchegante ao qual já entrei, não por ter luxos... Era tudo muito simples, contudo, ele (assim como a dona) se fazia respeitar... Não apenas por estar repleto de livros, bibelôs, vitrola, discos, retratos e vários objetos que contavam a história de quem lá dormia, mas por ter aquele cheirinho próprio, aquela insistente luz de fim de tarde e, principalmente, por passar inspiração, sensação de que tudo vai dar certo...Sabe-se lá Deus o porquê e para quê.
Onde entra a caixa de biscoito nessa história???
Na instante de livros, perto de um pote de doces açucarados.
E era tão bonita, azul escura.
Biscoitos de vários sabores e formatos.
Até que chegou o dia em que o quarto aconchegante e todos seus objetos viraram uma doce lembrança... Um belo dia, sem mais nem menos, dou de cara com uma lata de biscoitos da mesma marca que habitava a instante do quarto da senhora, não quis nem saber, levei para morar comigo, acomodei gentilmente ela na minha instante e enchi de objetos=caixa de recordações. Hoje, ela não está mais lá, minhas recordações estão todas dentro de uma caixa de papelão... Mudou-se de embalagem mas o conteúdo é o mesmo.Essa criatura que escreve apenas tem vontade de abrir a caixa e expor. Poder gritaaaaaaaaaaaaaarrrrrrr o que pensa. O que esperar desse blog???
Pano pra manga.